"Trata um homem de acordo com o que ele é,ele continuará na mesma; trata-o de acordo com o que ele pode e deve ser, e ele será como pode e deve ser!"
terça-feira, 16 de julho de 2013
Pensamento do dia...
Palavras Complementares
Heráclito e Guimarães Rosa:
Palavras que andam juntas
“Ninguém entra num mesmo rio uma segunda vez. Pois quando
isso acontece já não se é o mesmo; assim como as águas, que já serão outras.”
Foi um filósofo grego, Heráclito de Éfeso, que fez esta
formulação que até hoje nos fascina. O fluxo eterno das coisas é a própria
essência do mundo. E se ainda hoje ficamos espantados com isso, é porque nos
apegamos teimosamente ao que já passou, esperando, no fundo, que tudo permaneça
igual. Então, é necessário um filósofo da antiguidade, ou um escritor
contemporâneo, pra nos fazer entender que nada é permanente, a não ser a
mudança.
“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas
não são sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior, é o que vida me ensinou.”
Guimarães Rosa.
O filósofo flagra a fluidez, e o escritor se maravilha com
isso. “É o mais bonito da vida” _diz Guimarães Rosa. É uma celebração do
movimento; não é um lamento. O tempo não pára. E isso é belo. Então, quando me
encontrares, eu serei outra, e você também.
Fonte(s):
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3532665
Este texto foi proferido no último capítulo da novela global "A Vida da Gente" e faz refletir sobre como as coisas fluem e a ideias precorrem milênios. Heráclito foi um filósofo que viveu antes de Cristo e Guimarães Rosa, um escritor brasileiro que viveu do início à metade do século 20. Milênios que os separam e palavras que andam juntas!
terça-feira, 2 de julho de 2013
Heráclito
Para Heráclito de Éfeso, nascido por volta de 540 a.C., tudo o que existe está em permanente mudança ou transformação. A essa incessante alteração deu o nome de DEVIR.
O mundo, segundo Heráclito, é um fluxo permanente em que nada permanece idêntico a si mesmo. Tudo se transforma no seu contrário. “A guerra é mãe e rainha de todas as coisas”. É da luta entre os contrários, ou seja, do devir, do tornar-se, do vir-a-ser, que eles se harmonizam numa unidade. O Lógos (razão, discurso sobre o ser) é mudança e contradição.
Isso significa que a verdade é dialética, isto é, as palavras dizem as coisas em sua eterna transformação. Os nossos sentidos enganam-nos, pois enxergamos as coisas imóveis, estáveis, com uma forma própria e determinada. Porém, nosso pensamento capta a instabilidade e mutabilidade dos seres. “É impossível entrar no mesmo rio duas vezes”. As águas já são outras e nós já não somos os mesmos.
É na síntese entre os pares de contrários (o dia que se torna noite que se torna dia novamente; a vida que se torna morte e vice-versa; o quente que se torna frio e o frio que se torna quente; o seco que umedece, o úmido que seca, etc.), da multiplicidade contraditória que surge a unidade dialética que nos permite algum conhecimento, ainda que passageiro.
O Obscuro, como era conhecido Heráclito, concebeu o FOGO como o princípio eterno que causa a mudança e concebe Deus como a harmonia ou síntese entre os contrários. É uma concepção de realidade que permite compreender o mundo somente no seu devir e na unidade dos opostos. Quer dizer que a doença torna valorosa a saúde e que jamais entenderíamos o significado da justiça se não houvesse a ofensa. O sentido, o significado está na harmonia, na conciliação entre os vários pares de contrários.
Por isso, é muito provável que a imagem do inferno criada pela Igreja Católica e pelos artistas ocidentais tenham referência à filosofia heraclitiana. Isso porque o fogo que significa mudança, instabilidade se opõe radicalmente ao ar que representa o céu, o repouso em que Deus é fonte confiável do conhecimento e da ordem.
Por isso também, em geral, os movimentos contra a ordem estabelecida no decorrer da história (como o comunismo contra o capitalismo; o rock contra a sociedade consumista e alienada, o feminismo, etc.) fazem reverência à mudança, ao vermelho (fogo) e ao diabo, pois sua intenção é promover a instabilidade contra os sistemas.
É interessante observar como a filosofia de Heráclito permanece atual. No que se refere à matéria, essa é mutável e concebida pelos cientistas como eternamente em transformação (como afirmou o químico Lavoisier no século XVIII, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”). A atualidade de seu pensamento também pode ser observada no Princípio da incerteza de Heisenberg, físico que ajudou a desenvolver a mecânica quântica no século XX, que diz ser impossível afirmar com exatidão a posição de um elétron em um átomo em razão da metodologia de aferição.
Também podemos observar o Devir em nosso próprio metabolismo, pois constantemente estamos incrementando matéria ao nosso corpo (alimentação que permite o crescimento) e o desgaste físico com a idade (que é a perda de matéria).
Assim, concebe-se o pensamento de Heráclito como a base do materialismo, ou seja, da filosofia que concebe como unicamente existente, em todos os níveis, a matéria.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
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